Confesso que organização não cabe em minhas virtudes e que
dificilmente me desfaço dos meus pertences, mas não misturo sapatos com
chapéus.
Eu gosto de cores fortes assim como as bebidas e também gosto
de vento na cara assim como a verdade crua. Gosto de sol queimando a pele, mas também
gosto da chuva molhando meu rosto. Gosto de correr e de vez em quando eu paro a
ponto de nem piscar os olhos. Gosto de
janelas sem cortinas e paredes pintadas. Gosto de dançar com rosto colado, mas
também de dançar sozinha quando ninguém esta por perto.
Tenho uma imaginação cruelmente ampla e uma intuição
perigosamente cortante e mesmo assim permito que me enganem com palavras
ilusórias, sorrisos disfarçados, toques irreais e sentimentos picaretas e o aprendizado
parece evaporar diante próximos enganos.
No meio de flores limpas existem flores envenenadas,
encontra-se erva daninha em plantações, frutos podres nas cestas de um piquenique
comum, urubus em janelas que pedem sabiás e corações frios juntam-se com
corações frágeis, uma picaretagem.
Eu não sei ver veneno em flores, não vejo praga onde existe
natureza, não vejo como um alimento pode “desalimentar” ou matar, não vejo
maldade onde existem asas e muito menos frieza num órgão onde só sobrevive com
calor.
Eu gosto de pés no chão e calos expostos assim como cabelos
ao vento, eu gostaria de libertar o que fica calado e dolorido por dentro...
Ah, se um vento fora de hora levasse todas as mágoas com tanta facilidade como
se leva um chapéu.