sexta-feira, 28 de junho de 2013

Não cabe picaretagem no meu coração e eu não preciso de sapatos

Se a vida fosse dividida em pastas arquivadas quantas pastas vazias teriam na sua, quantas pastas você queimaria e quantas pastas você guardaria com zelo?

Confesso que organização não cabe em minhas virtudes e que dificilmente me desfaço dos meus pertences, mas não misturo sapatos com chapéus.

Eu gosto de cores fortes assim como as bebidas e também gosto de vento na cara assim como a verdade crua. Gosto de sol queimando a pele, mas também gosto da chuva molhando meu rosto. Gosto de correr e de vez em quando eu paro a ponto de nem piscar os olhos.  Gosto de janelas sem cortinas e paredes pintadas. Gosto de dançar com rosto colado, mas também de dançar sozinha quando ninguém esta por perto.

Tenho uma imaginação cruelmente ampla e uma intuição perigosamente cortante e mesmo assim permito que me enganem com palavras ilusórias, sorrisos disfarçados, toques irreais e sentimentos picaretas e o aprendizado parece evaporar diante próximos enganos.

No meio de flores limpas existem flores envenenadas, encontra-se erva daninha em plantações, frutos podres nas cestas de um piquenique comum, urubus em janelas que pedem sabiás e corações frios juntam-se com corações frágeis, uma picaretagem.

Eu não sei ver veneno em flores, não vejo praga onde existe natureza, não vejo como um alimento pode “desalimentar” ou matar, não vejo maldade onde existem asas e muito menos frieza num órgão onde só sobrevive com calor.

Eu gosto de pés no chão e calos expostos assim como cabelos ao vento, eu gostaria de libertar o que fica calado e dolorido por dentro... Ah, se um vento fora de hora levasse todas as mágoas com tanta facilidade como se leva um chapéu.